Bem acompanhado na companhia do peixe - hadoque inglês grelhado com molho de queijo grana padano.

Noite de outubro, os vapores de um dia chuvoso adensavam-se em brumas nas ruas do Setor Marista. Pensei ser esta mais uma de tantas intermináveis passadas vagando feito minhas indesejáveis inquilinas artrópodes de hábitos noturnos entre a sala, a cozinha e o banheiro, ou outra avulsa, na leitura de “Do fundo de teus olhos” de Dean Kontz, que na verdade me expurga o sono ao invés de acolhê-lo.

A ligação da srta. I.C afastou esta possibilidade como quem sopra os olhos vermelhos de quem foi lambido por lufada poeirenta.

Invitando este recém saído da labuta e possível insone para um peixe e uma taça de vinho, propiciou-me sair do pêndulo lento entre cômodos.

Ao buscar a srta. desejosa de boa prosa e pequenos eflúvios etílicos me dirigi à Companhia do Peixe (rua t-30 n. 2333, setor Bueno), um excelente recinto que figura entre os melhores da capital em se tratando destes pitéis marinhos e lacustres.

Ao chegar, me deparei com um agradável garçom que com um olhar lânguido e malicioso conduziu-nos a uma de suas mesas mais reservadas que dormia na penumbra de um canto.

As intenções do garçom possivelmente eram diversas às minhas. Olhos oliva e cabelos de mel escorrendo sobre faces alvas e ombros de porcelana ás vezes trazem estes ímpetos.

Entre lembranças divertidas e novidades recém prensadas, nos deliciamos com o formidável hadoque inglês grelhado com molho de queijo grana padano.

O sabor do pescado inebriou momentaneamente meu paladar, elaborando inflexões aquáticas em minha língua, num jorro bretão de deleite, que dialogou em linguagem líquida com a suavidade adstringente do vinho verde sorvido em seguida.

Sabores, cores e texturas eiradas de diversidade aparentemente contrastantes ás vezes ficam belas e simétricas quando mescladas.

Imagem: veja.brasil.com.br