Num dia em que a tristeza me encompridava no tempo, esticando meus tendões a ponto de me romper em dois, eis que surge, em forma de uma barra marrom, um pequeno suspiro de refrigério, deitado sobre um pires conhecido de infância e servido por dedinhos finos, os pequenos construtores desse adulto precocemente talhado e tardiamente amadurecido que hoje sou.
A filha da minha juventude e mãe de minha adultêz, Caroline Córdova, com nobreza de princesa e a simplicidade de quem limpa um ferimento com lenço e saliva, me entregou o que segundo ela, estancaria o translúcido ribeiro que vazava de minha alma e escorria pelas minhas faces.
O bolinho feito por ela seguindo uma receita de caixinha, parecia conter ingredientes não impressos na embalagem, sei disso pois não o experimentei com papilas gustativas, mas coronárias, que denunciavam itens como independência, posteridade, cuidado (não o dado, ítem barato e banal no meu mercado particular, e sim o recebido, doce e raro) e a solidão eminentemente progressiva, fermentada pelo crescimento de membros infantis.
Esta cara delícia foi servida acompanhada do mais lácteo sorriso, dado por alguém que ainda não aprendeu a desaprender felicidades – o sorriso dela quando goteja em minha tristeza, transborda vagaroso pelos meus olhos.
Ninguém conseguirá repetir a receita, por ter ingredientes secretos de tradições criadas numa década inteira por almas que se entrelaçam em rituais improvisados de amor sincero, porém tentarei reproduzir assim como ela fez.
Modo de fazer:
Peça para sua avó colocar todos os ingredientes na mesa, escolha uma fôrma bem bonita, mas pequena, leve uma bronca da vozinha. Pegue então a que ela escolheu. Misture todos os ingredientes na proporção descrita na embalagem, peça para ela acender o forno, coloque então a fôrma a 4 mãos dentro dele.
Conte os 1800 segundos um a um no relógio da cozinha, então peça para a avó retirar.
Olhe com carinha de dozinha para ela fazer a cobertura de chocolate. Tente aprender a receita e esqueça logo em seguida.
Sirva com um sorriso dizendo que foi você quem fez.
A filha da minha juventude e mãe de minha adultêz, Caroline Córdova, com nobreza de princesa e a simplicidade de quem limpa um ferimento com lenço e saliva, me entregou o que segundo ela, estancaria o translúcido ribeiro que vazava de minha alma e escorria pelas minhas faces.
O bolinho feito por ela seguindo uma receita de caixinha, parecia conter ingredientes não impressos na embalagem, sei disso pois não o experimentei com papilas gustativas, mas coronárias, que denunciavam itens como independência, posteridade, cuidado (não o dado, ítem barato e banal no meu mercado particular, e sim o recebido, doce e raro) e a solidão eminentemente progressiva, fermentada pelo crescimento de membros infantis.
Esta cara delícia foi servida acompanhada do mais lácteo sorriso, dado por alguém que ainda não aprendeu a desaprender felicidades – o sorriso dela quando goteja em minha tristeza, transborda vagaroso pelos meus olhos.
Ninguém conseguirá repetir a receita, por ter ingredientes secretos de tradições criadas numa década inteira por almas que se entrelaçam em rituais improvisados de amor sincero, porém tentarei reproduzir assim como ela fez.
Modo de fazer:
Peça para sua avó colocar todos os ingredientes na mesa, escolha uma fôrma bem bonita, mas pequena, leve uma bronca da vozinha. Pegue então a que ela escolheu. Misture todos os ingredientes na proporção descrita na embalagem, peça para ela acender o forno, coloque então a fôrma a 4 mãos dentro dele.
Conte os 1800 segundos um a um no relógio da cozinha, então peça para a avó retirar.
Olhe com carinha de dozinha para ela fazer a cobertura de chocolate. Tente aprender a receita e esqueça logo em seguida.
Sirva com um sorriso dizendo que foi você quem fez.
Que lindo... Pena que não existam receitas para estes afagos.
ResponderExcluirpoético!
ResponderExcluirAi que luxo meu Deus!!! Vc me encanta com esses textos!!! E ainda mais com tanto carinho com sua cozinheira mirim! És um poeta...rs
ResponderExcluirtenho certeza q esta receita nem engordar, engorda. bjo pra vc! outro pra carol!
ResponderExcluirCarol realmente é uma princesa...
ResponderExcluirE um pedaço de bolo - principalmente este descrito - sempre traz um alento pra qualquer alma entristecida.
Falando nisso, temos um de refrigerante para compartilharmos, meu querido.
Independente de bolo, meus ouvidos, minha atenção e o colinho da amiga de infância estarão sempre ao seu dispor quando o vosso coraçãozinho estiver apertado. Visse?
Se cuida, menino.
Lindo, lindo, lindo! Não pude deixar de me emocionar.
ResponderExcluirBeijos